13 de nov. de 2015

MOON



Enquanto o lobo dorme, Lua suspira sob os últimos momentos da escuridão. Ela brilha platônica, solitária, enquanto as estrelas esmaecem.

Seu brilho percorre o campo, as copas das árvores, o alto da montanha de onde seu lobo uiva. Lua lembra a intensidade de sua luz quando envolve o lobo em seu canto melancólico. Azulada e cúmplice.

Então, esse cintilar moribundo recupera forças para espreitar prados, cavernas, invadir vãos escuros, descobrindo por entre as pedras o lugar onde ele repousa.

Lua se recolhe num milésimo de sobressalto ao encontrá-lo em sua forma humana. Retoma seu propósito tocando-lhe os pés, percorrendo o bronze de suas coxas. Quando sua prata escorre por seu peito inerte, Lua sente o movimento calmo de seu respirar. Permanece ali, perene, repousando no sobe e desce desse pulsar.

Como que sentindo seu toque, o lobo se move lentamente. Com isso, Lua consegue vislumbrar seu rosto. Perfeito. Sua boca de lábios grossos. Seus dedos de luz agora estancam sobre essa carne macia, justa.

Perde-se o tempo.

Quando o primeiro raio de sol invade o instante, um flash de Lua ainda consegue vislumbrar as pupilas negras de seu lobo. 
Olhar e brilho se reconhecem.

E Lua morre.
Contra sua vontade.
Suavemente.

Uma história de Lua e Lobo para uma sexta, 13. 
Rabisco: Fátima Affonso




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