Enquanto o lobo dorme, Lua suspira sob os últimos momentos da escuridão.
Ela brilha platônica, solitária, enquanto as estrelas esmaecem.
Seu brilho percorre o campo, as copas das árvores, o alto da
montanha de onde seu lobo uiva. Lua lembra a intensidade de sua luz quando
envolve o lobo em seu canto melancólico. Azulada e cúmplice.
Então, esse cintilar moribundo recupera forças para espreitar prados, cavernas,
invadir vãos escuros, descobrindo por entre as pedras o lugar onde ele repousa.
Lua se recolhe num milésimo de sobressalto ao encontrá-lo em sua
forma humana. Retoma seu propósito tocando-lhe os pés, percorrendo o bronze de suas
coxas. Quando sua prata escorre por seu peito inerte, Lua sente o movimento
calmo de seu respirar. Permanece ali, perene, repousando no sobe e desce
desse pulsar.
Como que sentindo seu toque, o lobo se move lentamente. Com isso,
Lua consegue vislumbrar seu rosto. Perfeito. Sua boca de lábios grossos. Seus
dedos de luz agora estancam sobre essa carne macia, justa.
Perde-se o tempo.
Quando o primeiro raio de sol invade o instante, um flash de Lua ainda
consegue vislumbrar as pupilas negras de seu lobo.
Olhar e brilho se reconhecem.
E Lua morre.
Contra sua vontade.
Suavemente.
Uma história de Lua e Lobo para uma sexta, 13.
Rabisco: Fátima Affonso
Muito especial
ResponderExcluirMaravilhoso
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