23 de nov. de 2015

UM MOMENTO, POR FAVOR!


"...Vou andando nas horas
Atravessando os agoras
Dançando as novas auroras..." 

Novas Auroras (Jorge Du Peixe) 



Momento único
Aquele que desejamos que se repita por infinitas vezes.
Momento presente
O instante em que estou escrevendo isso.
 O instante em você que está lendo isso.
Grande momento
O que pode parecer pequeno aos olhos dos outros, mas que ocupa um espaço enorme dentro de nós.
Momento histórico
Aquele que registraríamos em um livro.
Momento secreto
Certamente o publicaríamos no jornal!
Mas, preferimos mantê-lo trancado a sete chaves.
Melhores momentos
Um resumo com os momentos que merecem ser lembrados.
Momento de reflexão
Quando reunimos vários momentos pra conversar.
Momento de paz
Quando todos os momentos estão dormindo.
Piores momentos
Não me lembro mais!

(Escrito num determinado momento de 2009)

13 de nov. de 2015

MOON



Enquanto o lobo dorme, Lua suspira sob os últimos momentos da escuridão. Ela brilha platônica, solitária, enquanto as estrelas esmaecem.

Seu brilho percorre o campo, as copas das árvores, o alto da montanha de onde seu lobo uiva. Lua lembra a intensidade de sua luz quando envolve o lobo em seu canto melancólico. Azulada e cúmplice.

Então, esse cintilar moribundo recupera forças para espreitar prados, cavernas, invadir vãos escuros, descobrindo por entre as pedras o lugar onde ele repousa.

Lua se recolhe num milésimo de sobressalto ao encontrá-lo em sua forma humana. Retoma seu propósito tocando-lhe os pés, percorrendo o bronze de suas coxas. Quando sua prata escorre por seu peito inerte, Lua sente o movimento calmo de seu respirar. Permanece ali, perene, repousando no sobe e desce desse pulsar.

Como que sentindo seu toque, o lobo se move lentamente. Com isso, Lua consegue vislumbrar seu rosto. Perfeito. Sua boca de lábios grossos. Seus dedos de luz agora estancam sobre essa carne macia, justa.

Perde-se o tempo.

Quando o primeiro raio de sol invade o instante, um flash de Lua ainda consegue vislumbrar as pupilas negras de seu lobo. 
Olhar e brilho se reconhecem.

E Lua morre.
Contra sua vontade.
Suavemente.

Uma história de Lua e Lobo para uma sexta, 13. 
Rabisco: Fátima Affonso




4 de nov. de 2015

Meu blog, minha casa!


Sou assumidamente sem teto! Minha casa é esse avatar em que essa minha alma insiste habitar.
Talvez esse blog possa fazer vezes de casa.
Penso, então, que meu segundo post pode falar da casa que tenho desenhada em mim.
Engraçado. Eu devia morar nela... e é ela que mora em mim!

Para que se sintam acolhidos, melhor visitá-la por aqui.

Minha casa tem cara e essência.
Tem cortinas brancas, daquelas indianas, que tapam o sol com a peneira.
Esvoaçantes, para se saber que o vento está ventando.

Quase nada de coisas.

Música também! E artes! Das minhas e de amigos.
Bilhetes pendurados por suas paredes, paredes que têm fotos, fotos de momentos que devam estar explícitos, que reavivam os instantes mais quietos.

Um pequeno jardim de grama para sentar com meu cão.
Algumas plantinhas autossuficientes, porque não sou entendida delas. Já tentei. Vou precisar de um jardineiro, se quiser algo mais que isso.

Flores! Delas eu gosto. Espalhadas pelos quartos, sala, cozinha, banheiro.
Nos quartos, elas serão brancas, para manter a pureza do sono e para que os sonhos sejam brandos.
Pelo resto da casa, podem colorir de todas as cores, jeitos e tamanhos. Para convidar a gente a sorrir.

Piscina e churrasqueira dão trabalho, mas reúnem. Talvez sim, talvez não.

Na sala, com toda certeza, tem uma tela grande, pois costuma juntar gente e pipoca ao redor. Chocolate e cobertor, também.
Os móveis dessa sala? São daqueles que abrem espaços. Porque tem que ter dança numa casa.
Dança, música, expressão, pessoas.
Não qualquer gente! Aquelas amadas. E amigos daquelas amadas. Pois não devo cercear os amores dos outros. Prefiro abrir minha casa pra eles e ganhar mais lugares ocupados no coração.

Haverá bagunça ao acordar. Sinal de que houve movimento, sensações, discursos, risos, sentimentos e tesão.
Ainda sobre as manhãs, haverá cheiro de café, pães, geleia e mel.
Para recuperar forças, despertar as mentes, recomeçar.

Claro! Tem quarto de filho nela! Sempre de braços abertos, disposto a esperar com cama bem grande e objetos de infância.
Porque filho que é filho vive longe, cria raízes em outras terras, cria seu mundo, mas por alguma horinha, corre pro seio da mãe.
Esse é o quarto que representa melhor a vida! É onde dois ciclos se encontram. O quarto da infância observada. A perpetuação.

Já o de hóspedes tem outra cara: cama fofinha, toalhas cheirosas, almofadas, futons. Destinado aos amigos achados, perdidos, aos casais desamparados de cama, aos viajantes e viajados.
Tudo muito acolhedor, com cara de suíte de pousada, para quem se servir nem sequer pensar que a amiga está no quarto ao lado.

Uma coisa muito importante dessa casa é o altar: um lugar reservado às gratidões e aos momentos de dúvida. Não há imagens nele, somente representações naturais que me situam sobre quem sou e para onde vou.
É nesse lugar, íntimo, que entendo que tudo e nada me pertencem. Que o que irá comigo dessa casa é o que paira em seu ar, é o que recomponho imaginariamente, quando caminho por seus espaços.
E eu sou esse lugar. E esse lugar sou eu.


Para meus amigos Bianca, Giulia, Samuel e Tatiana (também a meu novo amigo Léo). 
Ah! Esse texto já tinha sido escrito antes do último sábado!